Empreendedorismo: Uma Ferramenta de (R)Evolução Territorial

por | 04/06/2023

O desenvolvimento social e econômico de um território está diretamente relacionado à vontade e capacidade de colaboração dos seus próprios moradores. Percebam: não há transformação coletiva quando atitudes são pautadas apenas por interesses individuais. A conta simplesmente não fecha.

Impulsionados por esta crença somada a uma inquietude cidadã, há doze anos trabalhamos – eu e minha equipe – criando de forma colaborativa soluções de impacto positivo para desafios sociais. Um dos nossos projetos de maior impacto, o “Comunidades Empreendedoras”, tem o objetivo de desenvolver territórios através do potencial empreendedor.

Nele, ficou claro que precisamos ir além da potencialização individual dos empreendedores e empreendedoras. Se o foco é no desenvolvimento socioeconômico do território, é necessário incentivá-los a desenvolver o senso de coletivo e formar uma rede que atua para o bem comum.

A seguir queremos apresentar, no formato de 05 passos, a base metodológica simplificada que direciona nossa atuação no “Comunidades Empreendedoras”.  Afinal, metodologia boa é metodologia compartilhada.

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1. Conhecer

O primeiro passo para o desenvolvimento social e econômico de um território é conhecer bem o cenário local. É imprescindível que haja clareza de quais são as principais características sociais e potencialidades econômicas daquela região – assim como os principais obstáculos. Para obter tais informações, é recomendável seguir os diferentes métodos de coleta e análise de dados.

Dependendo do território em questão, é possível que haja pesquisas anteriores já publicadas – o que chamamos de dados secundários. Entrevistas e reportagens jornalísticas de fontes seguras também são materiais válidos e importantes na busca por informações relevantes já existentes. Essa análise de dados secundários garantem a ambiência necessária para o próximo passo do diagnóstico territorial.

Já com uma base de conhecimento sobre o território, chega o momento de coletar informações diretamente na fonte – o que chamamos de dados primários. Começando pelas pesquisas quantitativas, questionários com respostas fechadas podem ser aliados na busca por materiais mais conclusivos e que porventura não tenham sido encontrados na pesquisa de dados secundários. É importante que este questionário chegue a um universo representativo e diverso de pessoas da região estudada.

Com o objetivo de conseguir um maior aprofundamento, vamos em busca dos dados qualitativos. Indicamos a realização de grupos focais – encontros coletivos com pequenos agrupamentos de pessoas para sessões de escuta ativa. São nestes momentos que vão surgir depoimentos importantes – alguns tão fortes que são capazes de influenciar todo o processo posterior.

Para concluir o diagnóstico, ainda se faz necessário um importante e último passo: mapear os atores estratégicos que tem influência naquela região. Para facilitar este processo, é aconselhável dividir este mapeamento em contatos das seguintes categorias: instituições de ensino (escolas e faculdades), primeiro setor (órgãos governamentais e semelhantes), segundo setor (empresas privadas), terceiro setor (organizações da sociedade civil), empreendimentos sociais, lideranças comunitárias. 

2. Mobilizar

Se queremos transformar um território através do potencial empreendedor, precisamos mobilizar empreendedores e empreendedoras locais. E quem melhor para mobilizar pessoas de um território senão os próprios moradores locais? 

Criar um time de mobilização é uma estratégia que funciona. Se tiver dúvida de quem contatar primeiro para iniciar a formação deste time, tente conversar com lideranças comunitárias, assistentes sociais e/ou gestores de organizações sociais. Uma vez montado o time, este ficará responsável por gerenciar um canal direto de engajamento junto ao público mobilizado. 

Aqui uma dica importante: caso esta ação faça parte de um projeto que tenha investimento financeiro envolvido, não hesite em pagar pelo trabalho dos mobilizadores. Sim, eles estarão prestando um serviço. O voluntariado só se justifica se não houver envolvimento financeiro e interesse comercial em nenhuma das fases.

3. Educar

Agora que o grupo de empreendedores e empreendedoras já está mobilizado, faz-se necessário nivelar o conhecimento de todo o grupo. Para isso, uma formação educacional deve ser oferecida.

Seja qual for o tempo de atuação da pessoa empreendedora, ter acesso a conhecimento é sempre relevante. Temáticas como planejamento estratégico, gestão financeira, vendas e marketing são abordagens necessárias e que merecem atualizações constantes. Se houver a possibilidade, oferecer mentorias individuais para ajudar os negócios em dores particulares pode ser de grande valia.

Em tempo: para além dos ensinamentos, é durante a jornada de formação que os participantes estarão se relacionando de forma próxima. Trabalhar o senso de equipe é de extrema importância para que todos percebam que estão deixando de pensar e agir apenas enquanto indivíduos para ser parte de uma rede empreendedora que busca oportunidade e crescimento para todos e todas.

4. Investir

Para acelerar os empreendimentos, o investimento financeiro se apresenta como combustível essencial na estruturação dos negócios. Muitos precisam fazer a adesão de matérias-primas, maquinário ou até mesmo contratar pessoas essenciais para o aumento da produção e do faturamento. 

É importante avaliar as diferentes formas de oportunizar acesso a investimento: microcrédito, capital semente e até mesmo o financiamento coletivo podem ser alternativas. Esta verba pode vir de uma parceria estratégica junto a órgãos públicos ou empresas privadas que tenham o interesse em atuar com programas de responsabilidade social corporativa.  

5. Desenvolver

A esta altura, os empreendedores e empreendedoras já devem se comportar como uma rede. Mas precisamos de uma consolidação. Esta rede precisa estar conectada e atuante, provocando a formação ou a potencialização de um ecossistema favorável para o seu desenvolvimento e do território. 

Chega o momento das conexões. Pleitear políticas públicas favoráveis à economia local é uma opção. Assim como apresentar a rede para empresas de maior porte próximas à região para colocar em prática o conceito de aquisição social (social procurement) – quando empresas se comprometem a comprar de fornecedores locais. Também é uma boa estratégia provocar parceiras com  organizações de terceiro setor num movimento de ganha-ganha para causas sociais da região.

Lembre-se: o principal indicador para definir a relevância e a eficácia de um ecossistema é a interação. São as relações que vão proporcionar o desenvolvimento esperado.

É urgente que a sociedade volte a valorizar a colaboração. Somos seres interdependentes e deixar o senso individual falar mais alto que o senso coletivo nos atrasa enquanto humanidade. Precisamos trabalhar para que microterritórios se desenvolvam dentro das suas particularidades para que seja possível garantir o desenvolvimento dos macroterritórios. Afinal, ruas transformam bairros, que transformam cidades, que transformam estados, que transformam regiões, que transformam países.

Precisamos colocar o óbvio em prática: atuar em colaboração é vital. Afinal, para além do afeto, abraços são atos de (r)evolução.

Pedro Verda

Cofundador da Verda, laboratório global de inovação social. Consultor internacional pela CBJ Conscious Business Journey, membro da Comunidade B em Pernambuco e speaker do TEDx (2018). Também é Curador, Apresentador, Palestrante e Mentor em eventos como Campus Party Global (BR), Greenfest (PT), Rec’n’Play (PE), Festival VOX (PE), Primavera Festival (RN), MIC BR (SP) e Verda Experience (Global).

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