Como Navegar nas Novas Economias?

por | 22/08/2023

Nova bússola aparenta ser necessária para navegar nos mares das Novas Economias. A crise da COVID-19 desencadeou um aprofundamento no diálogo sobre questões relacionadas à sustentabilidade e no desenvolvimento de respostas às novas demandas do mercado.

No contexto das novas economias, compostas por diversas perspectivas e abordagens, voltamos o nosso olhar para a economia de impacto, que visa a analisar e compreender como diversas perspectivas estão interconectadas e influenciam o desenvolvimento de modelos de negócios e iniciativas que buscam gerar um impacto positivo na sociedade e no meio ambiente.

Ao considerarmos a economia de impacto como nosso ponto de partida, exercitamos a forma como pessoas empreendedoras, investidoras e organizações estão adotando práticas sustentáveis e socialmente responsáveis para impulsionar a mudança e contribuir para um futuro mais justo, inclusivo e sustentável.

Veja abaixo uma representação visual dessa relação, proposta por James Marins.

E por que falar sobre bússola e navegação nesse contexto? Pela intenção de atravessar, desbravar, enfrentar um ainda desconhecido caminho, trajeto ou desafio, considerando habilidades, conhecimentos e estratégias específicas para alcançar o destino desejado. 

A grande questão é, como então chegamos até estes novos mares das novas economias e uma nova era de impacto positivo?

Como primeiro passo, sugiro iniciarmos por uma das principais atividades da navegação: a preparação. E como navegar literalmente não é meu forte, vou recorrer a uma inspiradora velejadora, Tamara Klink, que comentou que a preparação é a etapa mais difícil da viagem[1]. 

Então vamos lá?

1 – A economia é reflexo de um tempo

Analisar os movimentos econômicos e a timeline que lhe precede nos apresenta algumas questões e reflexões, como:

  • Ciclo que se repete: momentos de crise econômica e sanitária atuam como marcos relevantes na história da humanidade para desencadear busca por novas soluções e respostas. Com a crise da COVID-19, não foi diferente, o olhar atento para sustentabilidade e para as comprovações trágicas de uma globalização desenfreada trouxeram urgência para um debate tão relevante;
  • Nem tudo é tão novo como aparenta: Apesar de um reforço atual no tema de sustentabilidade e impacto, acertos e aprendizados no caminho deste tema,essas questõesjá estão em pauta e em ação há um tempo como: a Economia Circular que busca promover o reaproveitamento de recursos e a redução do desperdício, criando um ciclo sustentável de produção e consumo e o Design Social, retratado por Victor Papanek em 1971, em sua obra: Design for the real world, human ecology and social change;
  • Outras influências: ao longo da timeline é importante buscar ter em vista as influências políticas, seja o regime de governo, os marcos regulatórios, os planos nacionais implementados, pois estes balizam fomentos de desenvolvimento, assim como a estruturação socioeconômica da população, a qual alimenta mercados, práticas e provocações.

No diagrama abaixo, destaque em grandes níveis dos movimentos econômicos ao longo do tempo[2].

2 – Ponto de Encontro da Economia de Impacto

Ainda como preparação está a compreensão consciente dos conceitos e termos que se apresentam, para que em seguida possam ser aplicadas.

Os Negócios de Impacto são aqueles que seu core business endereçam um problema social ou socioambiental, ou seja, a medida que o negócio cresce, aumenta seu faturamento, também aumenta proporcionalmente o número de beneficiários (gestão de impacto e negócio em sintonia para sustentabilidade) e os empreendedores(as) estão alinhados a este propósito. 

Ainda sobre termos, o ESG (sigla para Environment, Social and Governance) é uma abordagem para avaliar práticas ambientais, sociais e de governança das empresas. Esse termo foi apresentado em relatório da ONU em 2004[3], e vem ganhando alta notoriedade, mas no fundo incursa sobre a base de sustentabilidade e faz referência a aspectos já considerados na prática de gestão de tripé de sustentabilidade (Triple Bottom Line[4]) – Social, Ambiental e Econômico.

Importante ressaltar aqui que ESG não é resultado, deve ser uma estratégia das organizações[5]. 

Há um ponto de interseção importante entre as grandes organizações em geral e os negócios de impacto. Destaco aqui uma fala do Diretor-Executivo da Artemisia, Luciano Gurgel[6]: 

“É função do capital e das grandes corporações trabalhar para resolver os problemas.”

É possível que os negócios de impacto contribuam com as estratégias e uma cadeia de valor mais sustentável das organizações, como temos visto por meio de projetos piloto via Inovação Aberta de Impacto, Coalizões voltadas ao endereçamento de desafios de setores prioritários, entre outros.

3 – Soluções Sistêmicas e Estruturantes

Entre preparar e navegar tenho percebido a importância da perspectiva estruturante e sistêmica que os pontos de encontro e as soluções propostas e desenhadas por nós podem ter. 

Mais do que complementaridade, é de fato a interseção a ferramenta para endereçar problemas cada vez mais complexos, uma vez que estamos embebidos pelos wicked problems – problemas com muitos fatores interdependentes que os tornam praticamente impossíveis de resolver-, seja fome, poluição dos mares, e a mitigação destes é buscar soluções específicas mas que conversem com o todo.

Fomos acostumados, pelo formato da escola, das academias, a olhar as vezes por matérias, módulos, silos e nichos, mas trilhar o mapa da Economia do Impacto exige ampliar o horizonte Além disso, uma mudança na forma como abordamos questões socioeconômicas, superando abordagens fragmentadas e olhando para o todo de forma global, agindo localmente com consciência dos impactos gerados. Olhar globalmente e agir localmente. 

A tiracolo, precisamos permanecer conscientes de que navegamos utilizando barcos distintos, com mais, menos ou nenhum privilégio e intervenções no campo geram impacto em uma cadeia.

Convite Final

“Nova Economia é  a economia na qual o sucesso não se mede apenas pelo lucro distribuído aos acionistas, mas pelo impacto social e socioambiental positivo gerado para a sociedade.”

— Marcel Fukuyama[7]

Para navegar com sucesso nas “Novas Economias”, é essencial preparar-se adequadamente e questionar a própria postura em relação à economia e ao empreendedorismo. Cada indivíduo e organização deve refletir sobre como está sua bússola. 

O convite final é para que possam se engajar nesse navegar por uma economia mais inclusiva, sustentável e com impacto positivo, e possam se perguntar qual economia estão nutrindo.

A preparação e a atuação alinhada com um propósito transformador são essenciais para transitar por esses novos mares de oportunidades, travas e desafios. 

[1] Destacou no programa Provoca na Cultura, em entrevista com Marcelo Tas. Link: https://cultura.uol.com.br/entretenimento/noticias/2022/02/01/3126_preparacao-antes-da-viagem-e-a-parte-mais-dificil-da-navegacao-afirma-velejadora-tamara-klink.html. Outra referência de reportagem com a Tamara Klink: https://umsoplaneta.globo.com/sociedade/noticia/2022/04/06/tamara-klink-na-luta-pela-sobrevivencia-nao-estamos-todos-no-mesmo-barco-diz-a-mais-jovem-velejadora-brasileira-a-cruzar-o-atlantico-sozinha.ghtml

[2] A Nova Economia retratada 1990 foi um movimento de priorizar a venda de serviços, ao invés do foco que caminhava até aqui de produtos.

[3] Relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) intitulado “Who Cares Wins”.

[4] Triple Bottom Line surgiu em 1994 com o artigo chamado “The Triple Bottom Line: what is it and how does it work?”. John Elkington.

[5] How to make ESG real, McKinsey, 2022. Link: https://www.mckinsey.com/capabilities/sustainability/our-insights/how-to-make-esg-real

[6] Entrevista NetZero. Link: https://netzero.projetodraft.com/luciano-gurgel-esg-e-coisa-de-mercado-gostamos-de-impacto-social/

[7] Head de global policy no B Lab, em vídeo gravado para a disciplina de finanças sociais do Instituto Legado (A era do Impacto, James Marins, 2019, pág 171).

Andréa Gomes

Gestora de Projetos da Artemisia

Atua como gestora de projetos e coalizões da Artemisia apoiando negócios de impacto a gerarem ainda mais transformação positiva. Coordena ações voltadas ao engajamento de comunidades e uso do empreendedorismo como ferramenta de desenvolvimento social e diminuição de desigualdades. Docente em disciplinas como Design Social e Novas Economias e faz parte das redes de Academia ICE e Comunidade B PE e do C.Acto (Coletivo de Impacto NE). Tem formação em inovação social e liderança pelo Guerreiros sem Armas e PMD Pro e formação acadêmica nas áreas de computação (Bacharelado) e administração (Mestrado). Já atuou na mobilização de Startup Weekends e em projetos de mentoria em programas como Mind The Bizz e Aliança Empreendedora.

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