Empreender: Verbo Feminino

No Mundo que mudou para todo mundo em 2020, uma parcela da sociedade foi mais impactada e essa parcela foram as mulheres. As que mais sofreram por conta do aumento do desemprego e do acúmulo de tarefas advindo do isolamento social causado pela pandemia.

Os dados da Pnad-Contínua, do IBGE, mostraram que, no terceiro trimestre de 2020, o Brasil registrou 8,5 milhões de mulheres a menos na força de trabalho, em comparação com o mesmo período de 2019. Além disso, a pandemia afetou mais empreendimentos conduzidos por mulheres, comprovado em estudo do Sebrae Nacional.

Mas, as mulheres são força! E nesse período desafiador o Brasil revelou cerca de 40% de crescimento do empreendedorismo feminino. Dos atuais 52 milhões de empreendedores no país, 30 milhões são mulheres, segundo dados do GEM (Global Entrepreneurship Monitor).

“As mulheres são empurradas para o empreendedorismo principalmente por falta de oportunidades no mercado formal e porque os ambientes de trabalho ainda são hostis para elas. Elas empreendem mais por necessidade do que por oportunidade”, afirma Ana Fontes, idealizadora do IRME, maior rede de apoio ao empreendedorismo feminino no Brasil.

Por isso, grande parte das mulheres não se enxergam como empreendedoras, apenas como “simples” prestadoras de serviços (cabeleireiras, manicures, esteticistas, etc) ou que só fazem “algo para complementar a renda da casa”.

E se você ainda se pergunta “por que empreender é um verbo feminino?” apresento mais alguns dados importantes que comprovam isso:

• Mulheres que empreendem investem mais na educação dos filhos e do bem-estar das pessoas da sua comunidade; [link]
• Mulheres empreendedoras são mais capacitadas que homens; [link]
• 60% delas tocam o negócio sozinhas, mas quando contratam, optam por mão de obra feminina. Quando uma mulher cresce, ela leva outras mulheres junto. [link]

Ainda assim, elas enfrentam muitos desafios, e um dos que mais impactam a vida das mulheres empreendedoras é a gestão do seu negócio. Falta de gestão financeira, contábil, de marketing, a falta de um planejamento estratégico impedem essas empreendedoras tornarem-se empresárias e crescerem.

No mercado, já existem algumas iniciativas que têm como propósito mudar esse cenário, como o Acelera MEI Mulher, da empresa Trêsbê Delas, uma aceleração para negócios femininos com o objetivo de resolver as dores em gestão mudando a mentalidade dessas mulheres de empreendedora para empresária.

“Por mais que eu tivesse formação, era uma área nova. Precisei pensar estrategicamente nas vendas. Então, pesquisei mercado, fiz cursos, passei a estudar marketing digital. Conhecer a Tresbê Delas foi muito proveitoso, pude ter contato com outras mulheres empreendedoras e vi que não estava nesse barco sozinha” — recorda Jussara Diniz, acelerada e dona da Filicatus.

Para muitas mulheres a jornada empreendedora é solitária, como citado por Jussara, e como forma de amenizar essas dores surgiram as comunidades de empreendedorismo feminino, como a Rede Ela Empreendedora em Recife e a Associação de Mulheres Empreendedoras, na Paraíba.

Comunidades que tem como objetivo conectar mulheres empreendedoras – ou que querem empreender – com os mesmos interesses, fortalecer as empresas lideradas por elas, mas que vão além dos negócios, acolhem as dores dessas mulheres, compartilham sonhos, e acabam tornando-se rede de apoio para muitas delas.

Recentemente, escutei que o empreendedorismo feminino está em hype, ou seja, é um assunto que está na moda. Não concordo!

O empreendedorismo feminino acontece há séculos – Madame Clicquot Ponsardin é considerada a primeira mulher do mundo dos negócios, tendo atuado no século XIX – não é algo passageiro, está em amplo crescimento e segue impactando a vida de muitas mulheres!